Para muitos, eu sou o tímida, que fala em pensamentos e pensa
entre os diálogos, esperando sempre nas entrelinhas que alguém perceba as
minhas metáforas. Mas o silêncio das palavras não ditas me torna uma elipse
apagada que não chama de ninguém a atenção. Uma longa e enfadonha pausa no meio
de uma conversa entre dois desconhecidos.
Primeira impressão, talvez.
Tem gente que me chama de nerd. Talvez os óculos expliquem isso. Ou minha incessante
curiosidade em saber o porquê das coisas, mesmo quando me dão respostas
prontas. Ou ainda a estante lá de casa, repleta de livros e revistas empoeirados
e largados às traças. Traças intelectuais, diga-se de passagem.
Na última das hipóteses, o motivo de tanta nerdice deve-se ao fato de eu me assentar sempre
nas primeiras cadeiras, prestar atenção às aulas, tirar boas notas, andar com a
postura curvada e olhar fixo no chão, não ser popular e ter um porte físico que
não é lá grande coisa. Principalmente as pernas! Só hipóteses!
Mas há quem me conheça. E conheça bem.
Dona Irá, por exemplo. Pra ela eu sou o "orgulho da mamãe", o primogênita que nunca
deixou de ser a filha caçula. A filha caçula que nunca cresceu, ainda
dependente dos mimos e cuidados da amada progenitora.
A alegria e as dores da primeira gestação. A emoção do primeiro “ma-ma”. O
cinto dobrado, algoz arrependido das minhas primeiras traquinagens. O abraço
apertado seguido de um “eu te amo” no intervalo do joguinho de futebol.
Texto original Fabiano Cunha
Belíssimo !
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